GRITO SILENTE
No fim da existência,
Quando o corpo, cansado,
Cumpre a penitência
De tão grande fardo,
Lutando com dores
Que o torna lento,
Num drama sem cores,
Triste e sem alento,
Descobre o paciente,
No colo do amigo,
Que o dia presente
Lhe apontará o abrigo
Liberto da chaga
Que o torna cativo
Por um preço que apaga
Da vida, o lenitivo.
Eutanásia elimina
O desfecho de ouro
Descoberto na mina,
Do coração, o tesouro.
É mister completar
Do ciclo, o anelo
E, assim, terminar,
Da missão, o elo
Que coroa, com vitória,
O foco de sua vida,
Marco de uma história
Que, coragem, envida.
Então, de repente,
Lhe falta o ar,
Mas, ainda presente,
Põe-se a lutar.
Como trovão, o pulmão,
Mesmo baixo, ainda fala,
Num ronco em ação,
Pelo ar que exala:
__A vida é sagrada
E, como tal, é parte
De cadeia que aguarda
Completude com arte.
Sofre o companheiro
A perda do amigo
Que pensa liberto
Do cativeiro
E que, pelos olhos abertos
E língua estirada
Expressa, impotente,
Seu grito silente:
__Eu te amo!
Graça Guardia - 07.03.2012
Hannah, eu te amo muito!
Imagem: foto de HANNAH
25.10.1996 / 08.02.2011
Graça Guardia
Enviado por Graça Guardia em 07/02/2016
Alterado em 25/02/2020